A nova “normalidade” pandêmica trouxe diversas problemáticas inéditas ou veladas existentes em nossa sociedade. No campo da educação, certamente tivemos a questionada transição para o ensino à distância, destacando temas como abismos sociais e saúde mental. A realidade é que milhões de estudantes e educadores se tornaram reféns subitamente de um novo modelo, e assim passaram a conhecer e sofrer as consequências simultaneamente.
De acordo com pesquisas realizadas pela organização e portal Nova escola, apenas 8% dos 8,1 mil profissionais de educação básica entrevistados afirmam ter a saúde emocional “ótima” comparada ao período pré-pandemia.
Professores se dizem “Com medo, preocupados, ansiosos e angustiados” e essa tem sido a nova “pseudo-normalidade”. Em meio a todos esses adjetivos, os educadores passaram a viver questionamentos sobre sua eficiência e o futuro de sua profissão, esforços herculanos e diários visam minimizar o prejuízo da educação nesse período de distanciamento social, sobrecarregando-os e muitas vezes em vão. Consequentemente surge a frustração e o sentimento de culpa, por seus resultados serem a falta de engajamento ou simplesmente “microfones desligados”. Assim, todo esse frenesi de emoções culmina no desenvolvimento de doenças como a depressão, ansiedade, síndromes de “Burnout” e impostor.
Com relação aos alunos o panorama não muda muito, e vemos as mais diversas reações: Desinteresse, indiferença, sobrecarga e tentativa de minimizar prejuízo educacional, assim como seus docentes. O distanciamento social apenas potencializou a difícil realidade da saúde emocional dos estudantes. Em 2016, de acordo com a Universidade Federal do ABC, 17,92% dos trancamentos foram justificados como “Questões psicológicas”, dados semelhantes se repetem em outras universidades. Aliado a isso, em pesquisa realizada pela psicóloga Karen Graner com discentes da área de saúde, o sofrimento psíquico atinge 30% dos estudantes brasileiros, com o aumento para 49,1% em escala mundial. Dessa maneira, o sofrimento apenas se intensificou com o isolamento e, obviamente, as 145.987 mortes até o momento.
Ainda assim, não crucifiquemos o “EAD”. Em um contexto não pandêmico onde o ensino à distância era opção, 79% dos alunos dessa categoria o classificavam como “excelente” ou “bom” de acordo com o portal “Quero Bolsa”, e destacavam a flexibilidade da carga horária, mensalidades mais acessíveis e localização do polo presencial como suas principais vantagens.
Portanto, não podemos determinar o ensino online como inefetivo e maléfico. A tecnologia se tornou a maior ferramenta de transformação do homem, é capaz de adicionar e revolucionar a indústria da educação. Trata-se apenas do direito de escolher, que nos foi suprimido devido ao cenário pandêmico.
Destarte, reflitamos sobre o atual contexto, não há culpados. Diariamente ingressamos na batalha de adaptação referente a esse novo sistema, todos nós, salvo raras exceções, estamos sofrendo e aprendendo a lidar com esse novo “momento”, jamais chamemos de “novo normal”. Fato é que falta o contato olho no olho, pele na pele, toque, urgimos por humanidade, comunicação… E não essa digital, por olhos virtuais e microfones de qualidade duvidosa. Falo de olhar para o aluno e se ver ali, falo de olhar para o professor e ver um exemplo, relações empáticas.
Assim como Elis e Belchior, já faz tempo que não vejo alguém na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida, mas digo que ainda há perigo na esquina, portanto tomemos cuidado. Estamos exauridos, porém vivos.