“Bem-vindo a República de Curitiba — terra da Operação Lava Jato — a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março, cinco anos de Operação Lava Jato — O Brasil Agradece”. Esta é a mensagem, um tanto cômica, que estampava o outdoor que levou o Conselho Nacional do Ministério Público decidir nesta segunda-feira, 18, pela demissão do ex-procurador da Lava-Jato, Diogo Castor de Mattos, pelo crime de improbidade administrativa. A decisão foi feita após o procurador confessar que ele havia solicitado a compra e instalação da peça publicitária. O caso ganhou força após as mensagens acessadas pelo hacker Walter Delgatti Neto, com o seu depoimento à Polícia Federal em julho de 2019, se tornarem públicos.

Castor de Matos, que aparece de forma tão discreta ao lado de outros oito procuradores da força-tarefa no outdoor que o auto elogia, pagou algo em torno de quatro mil reais para instalação da peça. O procurador, coloca, porém, em posição de destaque, o líder da operação em Curitiba, Deltan Dallagnol, de quem Castor chegou a ser estagiário. Dallagnol aparece no centro do outdoor, lugar que ocupa bem, logo acima da frase “A operação que mudou o Brasil”, e nisso o outdoor está certo.
A Lava Jato foi o centro da atenção dos brasileiros durante cinco anos, e realmente mudou o Brasil. A operação foi responsável, segundo estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, pela destruição direta de mais de quatro milhões de empregos e pela perda de mais de cento e setenta milhões em investimento no país- principalmente por auxiliar na geração da crise política, que teve seu ápice em 2018, com a eleição de Jair Messias Bolsonaro. Hoje vemos um país realmente diferente, e a Lava-Jato é responsável direta por isso.
As mensagens obtidas por Walter Delgatti Neto, que se tornaram públicas através da série de reportagens do The Intercept Brasil, tornam-se cada vez mais relevantes diante de cada novo fato. Hoje é indubitável o fato de que a operação se tratava de um esquema que buscava apenas interesses privados e políticos.
A recente revelação de que o procurador Deltan Dallagnol manipulou a delação de Pedro Barusco, ex-diretor da Petrobrás, para incluir o Partido dos Trabalhadores e “derrubar a república”, como revelam mensagens da Operação Spoofing, é outro exemplo do partidarismo da operação, e de como só conseguimos estas informações através do trabalho de hackers.
Hoje, estas mensagens que revelam a relação promíscua e criminosa estabelecida entre esta força-tarefa são públicas, graças ao hackativismo. Não existe segredo algum que não deva ser revelado em prol de um conhecimento da própria sociedade. Em um conflito de interesses, onde a informação é essencial para a materialidade de uma real democracia, é preciso escolher um lado. Por isso, sou levado a dizer: In Delgatti We Trust.