Cablegate: O devaneio midiático sobre as guerras do Afeganistão e Iraque 

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As revelações do WikiLeaks de 2010 que lançou luz sobre os telegramas de guerra do Afeganistão e Iraque foram os primeiros mega leaks a abalar o mundo da diplomacia internacional e das elites políticas. Em seguida, no ano de 2013, mais vazamentos entraram a bordo. Vimos Edward Snowden se esconder para vazar documentos sensíveis de vigilância da NSA e CIA; assistimos à publicação do Panama Papers, o conjunto de 11 milhões de documentos confidenciais de autoria da Mossack Fonseca — que fornecem informações detalhadas de empresas de paraísos fiscais offshore. À medida que esse fenômeno continuou a evoluir, um corpo significativo de áreas do direito internacional, direitos humanos e jornalismo investigativo procurou entender com mais precisão o surgimento, a luta e a história do WikiLeaks.  

O impacto das revelações do WikiLeaks segue levantando questões relevantes que a mídia, a política e reguladores de monopólios de poder devem abordar em um momento tão crucial que vê uma mudança no consumo de notícias e um debate cada vez mais acirrado entre privacidade online e transparência.

Os anos de 2010 e 2011, sem dúvida, foram os mais emocionantes da história recente em termos de divulgação de informações. As informações vazadas pelo WikiLeaks, incluindo “Assassinato Colateral” ou Collateral Murder, os registros da Guerra do Afeganistão e do Iraque, os arquivos da Baía de Guantánamo, os arquivos de espionagem e os arquivos de inteligência global, significou que o WikiLeaks e seu co-fundador, Julian Assange, estiveram por algum tempo — e não o necessário — no topo das manchetes internacionais. 

Este vídeo do WikiLeaks mostra o jornalista Namir Noor-Elden e seu motorista Saeed Chmagh sendo mortos em um ataque dos Estados Unidos no Iraque. Os disparos ocorreram em uma praça pública na capital Bagdá, atingindo também uma minivan cheia de adultos e crianças. Os militares norte-americanos alegaram que eles eram militantes e não sabiam como as mortes ocorreram.

Como resultado das divulgações do WikiLeaks, aprendemos mais do que nunca sobre corrupção e abusos dos direitos humanos em todo o mundo, a natureza da diplomacia, o complexo militar-industrial, a extensão da desinformação sobre a guerra e o abuso do poder do governo e dos detentores de espaço midiático (monopólios de TV, rádio e mídia impressa) — parcerias privadas em funções tradicionais do governo, como compartilhamento de inteligência, que estão sendo terceirizadas para empresas privadas e estão além do escopo do controle regulatório.

E não podemos parar por aqui. WikiLeaks demonstrou um compromisso corajoso com as melhores tradições do jornalismo e com o papel do Quarto Poder em nossa democracia, que não só desafiava autoridades diplomáticas e o poder para alcançar maior responsabilidade, mas também desafiou a velha mídia a fazer melhor. O que poderia nos interessar cada vez mais são os fenômenos de ações como a do WikiLeaks e outras formas de novas mídias, como parte do Quarto Poder, na democracia moderna.

A pressa em silenciar o WikiLeaks depende do abandono de qualquer padrão legal sustentável. Enfrentando os desafios do que a divulgação de informações pode significar na era da nova mídia, vimos respostas conflitantes e inconsistentes em relação à legalidade das operações do WikiLeaks de alguns líderes de nações, trabalhando sob uma posição ainda menos sustentável do governo dos EUA. O WikiLeaks adota a mesma conduta que jornalistas e organizações de mídia sempre adotaram: receber material confidencial e publicá-lo no parâmetro de interesse público. 

Vindo da mídia tradicional, as abordagens inconsistentes sobre o WikiLeaks baseiam-se em uma falsa dicotomia entre a “velha” e a “nova” mídia quando se trata de divulgação de informações e proteções legais — uma dicotomia que é insustentável e, inevitavelmente, serão mais amplas as implicações para todas as organizações de mídia, sejam novas ou antigas. O resultado das batalhas jurídicas enfrentadas por Assange e WikiLeaks forneceu um teste decisivo para o compromisso de governos pelo mundo com a liberdade de expressão e preservação do papel do Quarto Poder na nova era da mídia.


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O ChatGPT vai roubar meu estágio? Sabiá

Lançado ao público em novembro de 2022, o ChatGPT (sigla para Chat Generative Pre-Trained Transformer ou Transformador Pré-Treinado Gerador de Conversas em português) é uma inteligência artificial especializada em diálogo feita pela OpenAI. Diferente de outras inteligências artificiais, o ChatGPT se diferenciou pela sua capacidade de responder detalhadamente perguntas complexas, compor músicas e poesias, escrever contos de fadas e diversos outros tipos textuais.  Bill Gates, por exemplo, a caracterizou como uma ferramenta que poderá mudar o mundo. A grande pergunta: para quem?  A desenvoltura da IA nas mais diferentes áreas da produção intelectual humana vem atraindo diversas questões acerca do futuro profissional de revisores, redatores, acadêmicos, roteiristas, dentre diversas outras áreas que tem na escrita o seu principal ofício.  Para discutir estas e outras questões acerca do ChatGPT, nossa editora Sofia Schurig e o repórter Marcus Vinícius entrevistaram Lucas Lago, Tecnologista de Interesse Público, desenvolvedor do projeto7c0, mestre em Engenharia da Computação pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e colaborador no Núcleo Jornalismo. Mas fica de boa. O ChatGPT provavelmente não vai roubar seu emprego — por enquanto.  Saiba mais sobre o podcast em www.revistaosabia.com/podcast
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