Nenhuma das discussões que discutíamos
alcançou algum lugar, ao contrário de nós.
Juntos alcançamos tão longe, tão longe…
que nós então nos separamos.
Nas noites primeiras, havia apenas
uma língua lambendo as superfícies vivas.
Penetrando um no outro pelos olhos,
gerávamos filhos como luas geram marés.
Esquecíamos de como dividir o pão, o vinho,
porque somente multiplicávamos.
Jamais compreendíamos milagres,
porque os vivíamos quentes na carne
sem nenhuma teologia.
Aprisionados por fios entrelaçados num vastíssimo abismo solar,
cantávamos os cantos nunca ouvidos dum mundo fraterno.
Onde as espécies eram livres como os ventos.
Soavam melodias doces pelas raízes profundas
dum amor sem terra.
Jardineiros despidos, sob céus silenciosos,
sobre concretos habitados por espíritos abandonados,
cultivávamos infinitos jardins do Éden coloridos.
Neles, maçãs se deitavam com cobras,
cobras com maçãs — sem vestígio
de pecado, de culpa.
Os sonhos findaram… inexistiam desejos pairando para realizá-los. Despertos, pintávamos no ar, tintas jorrando pelos dedos:
compreensão, comunidade, comunhão.
Juntos alcançamos tão longe, tão longe…
que nós então nos alçamos da Terra.
Tão longe, em algum vão cósmico,
talvez num século esquecido, destruído,
enfim nos reencontraremos para
um beijo de despedida.
De línguas cortadas, renascerão
duas pujantes. E cada qual habitará
uma estrela seca para inundá-la de paixão.