POR SOFIA SCHURIG E MARINA NETO
Em 2019, a Operação Spoofing deu partida a um longo processo de investigação para responsabilizar os responsáveis por acessar os celulares de procuradores e juízes da Lava-Jato. Apesar de a decisão ter sido dada em dezembro do ano passado e só divulgada agora, o delegado da operação, Fábio Shor conclui que Walter Delgatti Neto agiu sozinho e nem foi pago para acessar e divulgar as informações das conversas para a imprensa. Por ora, a decisão para arquivar o processo dependerá do juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal.
Assim como reportado em matéria desta revista de julho de 2021, e reportagem da CartaCapital de setembro de 2021 com colaboração desta organização, a Operação Spoofing foi desmembrada em dois inquéritos: um que buscava um mandante por trás da autoria dos ataques, outro que buscava fraude bancária na suposta organização criminosa que estaria por trás da invasão.
O relatório, obtido e analisado pela Revista O Sabiá, não fala da possibilidade de envolvimento de nenhum indivíduo além de Delgatti na invasão. Mesmo assim, a imprensa brasileira divulgou a notícia na noite de quinta-feira (12) referindo-se a supostos hackers, no plural, enquanto o relatório somente confirma e ressalta a versão do réu confesso.
As mensagens obtidas por Walter Delgatti Neto, que se tornaram públicas através da série de reportagens do The Intercept Brasil em série chamada Vaza-Jato, até hoje mantém sua relevância como prova de que a operação da Lava-Jato se tratava de um esquema calculado para influenciar cenários políticos e alavancar carreiras de terceiros.

As inúmeras matérias afirmam, também, a participação do réu Thiago Eliezer nas invasões – dado este que não consta, em parte alguma, do relatório. Em 2019, em meio a série de prisões da operação, investigadores plantaram uma escuta ambiental no cano do chuveiro da cela de Eliezer, com o objetivo de captar conversas que levariam ao suposto mandante e usar o material capturado como evidência no inquérito. O relatório, como representado em imagem abaixo, afirma explicitamente que documentos foram acessados e vazados por Walter Delgatti Neto, não citando Thiago Eliezer. Para além disso, o delegado ressalta haver uma “impossibilidade lógica” de que a conduta de Delgatti pudesse ter impedido ou atrapalhado as investigações.

Procurado por meio de ligação telefônica, Walter Delgatti Neto disse:
O pedido de arquivamento trata-se de uma vitória do estado democrático de direito.
Nunca houve a participação de terceiros e tampouco um mandante. Reafirmo, mais uma vez, que apenas cumpri minha obrigação como cidadão, tornando públicas as mensagens após constatar diversos crimes e irregularidades praticadas por agentes públicos.
Insisto em afirmar que fiz tudo sozinho, alicerçado em princípios, em destaque o do interesse público e acredito que, no final, a justiça e a sociedade reconhecerá que minha contribuição foi totalmente legal e defendeu valores que são imprescindíveis à democracia do país.