Desde 2008, quando arrumei meu primeiro emprego, já perdi as contas de quantas vezes quis jogar tudo para o alto e pedir demissão. E não por estar fazendo algo que me aborrece. Muito pelo contrário. O problema de pagar as contas com a palavra escrita, porém, é que ser escritor é um ‘estilo de vida’, não um ‘trabalho’.
Quando você trabalha com a escrita você até consegue dinheiro para pagar as contas, mas, a última coisa que você tem é o tempo para escrever. Quando você trabalha com a escrita, as histórias inéditas desaparecem, porque quem escreve sem a obrigação do trabalho já escreveu tudo o que precisava ser escrito, do jeito que precisava ser escrito e no momento em que aquilo precisava ser escrito. É aquela velha história: I was looking for a job, and then I found a job… And heaven knows I’m miserable now.
Mas ser adulto é isso: aprender a sorrir para pessoas a quem você prefere distribuir chutes e pontapés. Ainda mais quando o patrão diz que a política da empresa proíbe, peremptoriamente, a emenda de feriados!
— Chefe, quinta-feira é feriado. Corpus Christi. Podemos enforcar a sexta?
— Não. Absolutamente! Isso atenta diretamente contra a cultura da empresa. Somos uma tropa de elite, não temos braço curto, fazemos o que precisa ser feito!
Veja bem, meu patrão, como pode ser bom: você trabalharia no sol e eu tomando banho de mar… Mas, às portas dos 35 anos, jogar tudo para o alto não me convém. Não estou mais acima da razão única e exclusivamente por ser jovem. Apesar de tudo, tenho plano de saúde, e isso, sim, me convém.